O feijão é bem antigo. Há vestígios dele em estudos arqueológicos que datam de 7000 anos a.C. sendo originário aqui mesmo do Continente Americano. Alguns pesquisadores dizem que ele foi da América do Sul ao Norte e outros que fez o caminho inverso, mas tb há registros arqueológicos de espécies “secundárias” do feijão na Ásia, Europa e África. Acredita-se que a disseminação dos feijoeiros pelo mundo se deve às grandes guerras, pois o feijão era de fundamental importância na dieta dos guerreiros. As grandes explorações ajudaram a disseminar estes hábitos alimentares, levando a cultura do feijoeiro para as mais diversas partes do mundo. Nos mais antigos registros históricos, existem relatos de que feijoeiro era cultivado no Antigo Egito e na Grécia, onde recebiam cultos em sua homenagem, por serem considerados símbolo da vida. Já os antigos romanos usavam o feijão em suas festas e até mesmo como forma de pagamento para apostas.
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Pé de feijão ou feijoeiro |
No Brasil, suas sementes foram encontradas em cavernas e calcula-se por isso que já estavam por aqui há cerca de 2000 anos. Câmara Cascudo em seu livro A História da Alimentação do Brasil, reserva ao feijão um capítulo inteiro: “ O Binômio Feijão e Farinha. A feijoada”, neste capítulo Cascudo faz um levantamento minucioso de pratos importantes que utilizam o feijão com protagonista na África, Europa, Ásia chegando ao Brasil pelas mãos dos portugueses e africanos (tipos diferentes trazidos por cada um). O índio brasileiro chama o feijão de cumandá que significa “comida ou alimento”, este termo se referia tanto ao feijão quanto favas. A partir de 1800 começa a ganhar predileção do homem brasileiro acompanhado da farinha de mandioca. Ganha popularidade por ser de fácil plantação, plantadas ao redor das casas, segundo Camara Cascudo, “o brasileiro, filho de portugueses, ameríndios e africanos, foi o principal consumidor propagandista do feijão. Os pais tiveram uso intermitente e acidental, valorizado, ampliado, enobrecido no nível de consumo pelo filho”. Tomou de fato o Brasil de norte a sul, (identificados em textos de naturalistas estrangeiros que percorriam todo o Brasil), época em que os feijoeiros se multiplicam de acordo com o crescimento populacional, e ganha a partir daí uma identidade nacional, fazendo parte da refeição de ricos e pobres.
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variedade de feijão |
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o mais consumido no Rio de Janeiro e Espirito Santo |
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Os grãos mais consumidos de maneira geral no Brasil |
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O mais consumido no Brasil - feijão carioquinha |
O sertanejo nordestino passou a utilizar a técnica de secá-lo ao sol, para provisões futuras. Tão importante era, que quem não tinha um pé de feijão no nordeste era considerado descuidado e preguiçoso. O feijão passou a ser uma refeição de sustento, nas marchas de bandeirantes, tropeiros e sertanejos, pois era comida substancial e revigorante, aumentava a energia para longas caminhadas, tanto que comer sem feijão servia só para enganar a fome. Na Bahia o misturavam com leite de coco, no Recife cozinhavam o feijão com a polpa do coco. Em todas as regiões ganhava a companhia da carne de sol, carne de porco, farinha de mandioca e milho e mesmo, bananas.
Entre os índios e os africanos não se costumava comer o feijão com outros ingredientes. Batata só com batatas, milho só com milho. Cai por terra então, a história de que a feijoada é um prato criado por escravos. O feijão e a farinha são hábitos adquiridos dos indígenas, misturado às carnes guisadas: português. Segundo o sociólogo Carlos Alberto Dória, em seu livro a Formação da Culinária Brasileira, é mito a ideia de que os escravos contribuíram para a formação da nossa alimentação, foi somente anos após a abolição que os negros livres começaram a influenciar cotidianamente a culinária nacional, uma vez que “um dos componentes principais para o desenvolvimento da culinária é a liberdade” (pág., 46). Aos escravos, segundo a legislação vigente, eram ordenados que fossem plantadas mandiocas para sua alimentação, e mesmo isso era usualmente negado, restando somente a farinha, misturada a água. O negro na américa era reduzida à condição de coisa. O próprio Câmara Cascudo coloca a feijoada como “uma solução europeia elaborada no Brasil. Técnica portuguesa com material brasileiro”. E um dos comprovantes desta teoria são receitas como o Cassoulet (prato francês), muito mais antigo que a feijoada, preparado com feijão branco e uma mistura de carnes de ganso, pato, perdiz ou cordeiro, dependendo da região ou da temporada local. A história da feijoada é uma jogada de marketing para vendê-las em botequins e restaurantes caros, chamando a atenção do estrangeiro por sua história pitoresca e inventiva e que nos coloca frente a frente com a história da opressão, porém subverte o sentido dramático desta opressão apaziguando o discurso do opressor.
Segundo uma pesquisa realizada em todo território nacional em 2007 sobre os hábitos alimentares brasileiros, o feijão faz parte das duas refeições consideradas mais importantes para os brasileiros: o almoço e a janta.
O feijão mais consumido no Brasil, (com exceção do estado do Rio de Janeiro e Espirito Santo) é o feijão “carioca”, que foi descoberto no interior de São Paulo e reproduzido em larga escala (seus grãos produziam o dobro dos outros tipos de feijões!) pela Embrapa na década de 70, e recebeu o nome “feijão carioquinha” em homenagem a uma raça de porco caipira, muito comum na época que também era rajado e conhecido pelo nome de “porco carioca”.
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feijão carioca refogado |
Abundante em todo território nacional, o Brasil é atualmente o maior produtor de feijão do mundo. Consumido de norte a sul do país. Com caldo grosso, temperado com alho, cebola, bacon, linguiça calabresa, folhas de louro, pimenta do reino, pimentões e tomates, é indispensável na mesa do almoço e jantar dos brasileiros.
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feijão nosso de cada dia. |
Bibliografia:
- Cascudo, Luís da Camara. História da Alimentação no Brasil – 4.ed. – São Paulo : Global, 2011.
- Dória, Carlos Alberto. A Formação da culinária brasileira – São Paulo : Publifolha, 2009. (Série 21)
- Barbosa ,Lívia. “Feijão com Arroz, Arroz com Feijão. O Brasil no prato dos Brasileiros. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 13, n. 28, p. 87-116, jul./dez. 2007
Fontes consultadas:
Imagens:
Parabéns,bem legal seu blog e suas pesquisas... sucesso!
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